Alberto Moravia: Os Indiferentes
Livros do Brasil Coleção Dois Mundos. 2017. 296 págs.

Como fui parar nesta leitura, de 1929? Tinha ouvido falar de Alberto Morávia, quando soube que foi casado com Elsa Morante, de quem li e comentei sua obra magna, A História. Mas foi recentemente, durante a leitura de um livro que me impactou, (Hemos perdido nuestros sentidos?) que parece não estar traduzido ao português, e deveria, quando encontrei este parágrafo provocador: “O escritor Ferdinando Camon anota: Temos três romances premonitórios desse período, três grandes obras precursoras dessa época que prenunciaram o mal moral que nos envenenaria. São eles Os Indiferentes, de Morávia, A Náusea, de Sartre, e O Estrangeiro, de Camus. Muitas vezes me perguntei qual das três obras nos representa mais. E respondo: Os Indiferentes. A náusea é uma rejeição do mundo (nós o vomitamos); sentir-se estrangeiro é uma separação (somos estrangeiros para o mundo). Com a indiferença, vemos e ouvimos, mas não somos perturbados. O cérebro e os nervos estão apáticos. Um excesso de mensagens nos dessensibilizou. A apatia moral é uma prática comum.”
Consegui um exemplar e iniciei a leitura, atento aos comentários do prefácio. Copio alguns parágrafos que me parecem essenciais para entender o escritor, e sua obra: “Alberto Moravia, um mestre narrador da alienação. Não tinha formação acadêmica, mas era um leitor voraz. Moravia foi extraordinariamente prolífico, e suas obras completas como narrador e ensaísta, incluindo peças teatrais, são difíceis de enumerar. Em relação à sua obra, contei mais de 560 livros ou artigos de destaque somente na Itália, observando que foi traduzida para vários idiomas e despertou o interesse de numerosos críticos estrangeiros. Os Indiferentes reflete o destino de uma geração que testemunhou a ascensão do fascismo, com repulsa, mas sem lutar, abrigada na consciência de sua impotência. Os protagonistas lutam contra a incapacidade de se comunicar, de apreender a realidade, enquanto tudo é dominado pelo que poderia muito bem ser chamado de doença dos objetos, visto que é impossível estabelecer contato verdadeiro com eles e uma relação genuína com a humanidade. Morávia nos mostra como a inação, o deixar-se levar, é o caminho de vida escolhido pela maioria das massas burguesas, que não têm motivos reais para lutar e, assim, são arrastadas para uma zona cinzenta, onde se tornam presas fáceis para qualquer predador disposto a se aproveitar dessa inércia para conduzir suas presas pelos caminhos mais vantajosos para si. Os traços dominantes de sua obra (a análise meticulosa do comportamento humano, a condenação da apatia moral e a consequente indiferença cívica de seus compatriotas) não são simplesmente anunciados neste romance: eles já estão capturados em uma narrativa e em personagens definitivos e memoráveis”.
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