Alfonso López Quintás: “La palabra manipulada”

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Alfonso López Quintás: “La palabra manipulada”. Rialp. 2015. 117 pgs.

 Impossível fazer um resumo deste pequeno livro -pouco mais de 100 páginas- devido à sua densidade conceitual. Leio o original em espanhol e, embora faça estes comentários em português, não me consta que tenha sido traduzido.

O livro funciona quase como um índice das inúmeras obras publicadas do autor, que abordam o sugestivo tema da manipulação. E como tal, são citadas a modo de referência, para os que queiram se aprofundar nos diversos aspectos.  Pode-se, sim, anotar alguns dos pensamentos a modo de trailer que convide a ler, ou melhor, a meditar o livro: porque não é um livro para ser lido descontraidamente. Cada parágrafo, denso em ideias, exige uma reflexão digestiva dos conceitos.

Logo de cara, o autor adverte que o domínio e controle sobre os seres pessoais leva-se a cabo, com astúcia, mediante as técnicas de manipulação. E manipular é tratar uma pessoa ou grupo de pessoas como se fossem objetos, de modo a conseguir um domínio fácil sobre elas. Reduzir pessoas a coisas é a essência do sadismo que, contra o que habitualmente se pensa, não é apenas ser cruel, mas rebaixar a condição e dignidade da pessoa. Despojar a pessoa da sua dignidade é também atingível através do que López Quintás denomina a ternura erótica: se reduz o relacionamento a simples atração sexual, eliminando-se a dimensão de amizade, a projeção comunitária do amor, a fecundidade amorosa.

Quem manipula? Eis a pergunta obrigatória. E a resposta simples e direta: manipula aquele que quer vencer sem nos convencer para que aceitemos o que nos oferece sem expor nenhuma razão da sua proposta. O manipulador exerce uma influência “obliqua”, manhosa. Diz o autor: “Não te enganaram; te manipularam, que é uma forma subtil de enganar”.

Muito sugestivo o conceito apontado sobre o que é a comunidade e a massa em perspectiva qualitativa não quantitativa. Um milhão de pessoas se manifestando com sentido definido e claro é uma comunidade não uma massa. Porém, duas pessoas -homem e mulher- que compartilham uma vida onde falta projeto e propósito é uma massa.

Como se manipula? Este é o prato forte do livro, onde as advertências são interessantíssimas. O que o autor denomina palavras talismã, de alto poder sedutor, e que se colocam sem nenhuma explicação ou justificativa. O manipulador não matiza a linguagem: dá tudo por sabido e o coloca com termos ambíguos, imprecisos. Cada época tem seus termos talismã, carregados de ambiguidade, e que exercem fascinação à plateia. Assim liberdade, revolução, progresso, diálogo e muitos outros. E ninguém se atreva a perguntar sobre o que devemos dialogar ou em que sentido progredir, porque a pergunta já se considera uma afronta. É preciso aceitar o termo, e ponto final. Dai que o autor aponte: “É chocante ver camadas da sociedade que deveriam ser exemplo de pensamento crítico, deixar-se levar gregariamente a movimentos reivindicativos sem submeter os conceitos a uma mínima revisão rigorosa”. Parece-me impossível descrever com maior clareza uma doença epidémica do nosso tempo: a ausência absoluta de rigor, o fascínio das modas, e os quase dogmas que a imprensa publica, avalizados por personagens de muito questionável capacidade crítica. Tudo isso lubrificado pela ditadura do emotivismo reinante; e aqui lembrei do magnífico ensaio sobre o tema, por conta de Theodore Dalrymple.

As advertências e antídotos contra a manipulação são elencadas na parte final deste livro-índice, em sintonia com o até aqui comentado e que podem se resumir na proposta essencial: aprender a pensar com rigor e criatividade. Essa é a única defesa possível para não se tornar marionete da manipulação. Não é uma solução simples, de fast-food, algo que nosso tempo almeja adquirir com rapidez. O livro de López Quintás mais se me assemelha a uma vacina que aplicada, vai gerando anticorpos próprios no organismo, as defesas requeridas contra a invasão dos germes da manipulação que são, como já dito, epidémicos. Uma leitura destas páginas despertará a nossa imunidade para o desafio que vivemos. Ou talvez várias leituras, como as doses de reforço das vacinas.

Alfonso López Quintás: “La palabra manipulada”. Rialp. 2015. 117 pgs.

 Impossível fazer um resumo deste pequeno livro -pouco mais de 100 páginas- devido à sua densidade conceitual. Leio o original em espanhol e, embora faça estes comentários em português, não me consta que tenha sido traduzido.

O livro funciona quase como um índice das inúmeras obras publicadas do autor, que abordam o sugestivo tema da manipulação. E como tal, são citadas a modo de referência, para os que queiram se aprofundar nos diversos aspectos.  Pode-se, sim, anotar alguns dos pensamentos a modo de trailer que convide a ler, ou melhor, a meditar o livro: porque não é um livro para ser lido descontraidamente. Cada parágrafo, denso em ideias, exige uma reflexão digestiva dos conceitos.

Logo de cara, o autor adverte que o domínio e controle sobre os seres pessoais leva-se a cabo, com astúcia, mediante as técnicas de manipulação. E manipular é tratar uma pessoa ou grupo de pessoas como se fossem objetos, de modo a conseguir um domínio fácil sobre elas. Reduzir pessoas a coisas é a essência do sadismo que, contra o que habitualmente se pensa, não é apenas ser cruel, mas rebaixar a condição e dignidade da pessoa. Despojar a pessoa da sua dignidade é também atingível através do que López Quintás denomina a ternura erótica: se reduz o relacionamento a simples atração sexual, eliminando-se a dimensão de amizade, a projeção comunitária do amor, a fecundidade amorosa.

Quem manipula? Eis a pergunta obrigatória. E a resposta simples e direta: manipula aquele que quer vencer sem nos convencer para que aceitemos o que nos oferece sem expor nenhuma razão da sua proposta. O manipulador exerce uma influência “obliqua”, manhosa. Diz o autor: “Não te enganaram; te manipularam, que é uma forma subtil de enganar”.

Muito sugestivo o conceito apontado sobre o que é a comunidade e a massa em perspectiva qualitativa não quantitativa. Um milhão de pessoas se manifestando com sentido definido e claro é uma comunidade não uma massa. Porém, duas pessoas -homem e mulher- que compartilham uma vida onde falta projeto e propósito é uma massa.

Como se manipula? Este é o prato forte do livro, onde as advertências são interessantíssimas. O que o autor denomina palavras talismã, de alto poder sedutor, e que se colocam sem nenhuma explicação ou justificativa. O manipulador não matiza a linguagem: dá tudo por sabido e o coloca com termos ambíguos, imprecisos. Cada época tem seus termos talismã, carregados de ambiguidade, e que exercem fascinação à plateia. Assim liberdade, revolução, progresso, diálogo e muitos outros. E ninguém se atreva a perguntar sobre o que devemos dialogar ou em que sentido progredir, porque a pergunta já se considera uma afronta. É preciso aceitar o termo, e ponto final. Dai que o autor aponte: “É chocante ver camadas da sociedade que deveriam ser exemplo de pensamento crítico, deixar-se levar gregariamente a movimentos reivindicativos sem submeter os conceitos a uma mínima revisão rigorosa”. Parece-me impossível descrever com maior clareza uma doença epidémica do nosso tempo: a ausência absoluta de rigor, o fascínio das modas, e os quase dogmas que a imprensa publica, avalizados por personagens de muito questionável capacidade crítica. Tudo isso lubrificado pela ditadura do emotivismo reinante; e aqui lembrei do magnífico ensaio sobre o tema, por conta de Theodore Dalrymple.

As advertências e antídotos contra a manipulação são elencadas na parte final deste livro-índice, em sintonia com o até aqui comentado e que podem se resumir na proposta essencial: aprender a pensar com rigor e criatividade. Essa é a única defesa possível para não se tornar marionete da manipulação. Não é uma solução simples, de fast-food, algo que nosso tempo almeja adquirir com rapidez. O livro de López Quintás mais se me assemelha a uma vacina que aplicada, vai gerando anticorpos próprios no organismo, as defesas requeridas contra a invasão dos germes da manipulação que são, como já dito, epidémicos. Uma leitura destas páginas despertará a nossa imunidade para o desafio que vivemos. Ou talvez várias leituras, como as doses de reforço das vacinas.

Comments 1

  1. Por mais anticorpos que se crie, é possível dizer que existem pessoas totalmente livres de qualquer tipo de manipulação?

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