Roberto Minadeo: “Sonhos Fulgurantes. Revelações de uma realidade enigmática”

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Roberto Minadeo: “Sonhos Fulgurantes. Revelações de uma realidade enigmática”. Ed Iluminare. RS. 2018. 147 págs.

Já comentei neste espaço que os contos não são leitura da minha devoção. É como se me faltasse o chão que proporciona a trama em forma de argumento, ou as ideias, quando se trata de literatura de pensamento. É claro que existem exceções, sobre tudo quando a escrita é elegante, sugestiva, e a forma -o embrulho- assume o protagonismo diante de um fundo-conteúdo, que passa a ser secundário. Um exercício elegante da escrita, um modo sedutor e verossímil de contar uma ocorrência. Um arte que encontramos em Cervantes, em Eça de Queiroz, em Drummond….porque em se tratando de forma, é preciso, na minha opinião, ler na linguagem original.

Os contos que me chegam agora vem de um amigo de muitos anos. Com dedicatória. Quer dizer, não há como não ler: um dever de justiça. E assim faço nos últimos dias do ano que acaba, a toque de caixa, buscando a forma -sempre difícil- que me agarre. Não era esse o propósito do autor, e lembro que me tinha advertido “alguns ficaram bem, outros não me convenceram”.

Descreve de corrido, sem alinhavar um argumento. Não são histórias fechadas: assemelham-se a janelas na vida de alguns personagens, bem descritos, que de repente se cerram. Tem riqueza de vocabulário, gírias da moda, que se acoplam ao gosto de hoje. Algum pensamento de fundo mas não gasta tinta com isso: “Por que tais reações de ciúme, de rejeição? Simples:  o que é inatingível precisa ser esmagado, detestado e descartado -sob pena de confissão de culpa, pois, se alguém deseja algo e sabe que jamais o conseguirá, viverá desconfortavelmente (…)  Relutou em abrir a ela qualquer espaço em seus sentimentos, por temor a criar expectativas: afinal seu estilo de vida era troglodita, em meio a máquinas e já vivendo no acampamento de trabalho da estrada”.

Mais do que pensamentos, lembram aforismos, máximas : “Ia ficando chato e o alvo era a pobre mãe. Quem se sente vulnerável machuca quem está a seu lado e é sempre bacana (…) Se via no fundo do poço, com medo da esperança -que lhe parecia a arma dos ingênuos”

Contos que não se concluem, apenas se interrompem, sem aviso prévio. Não procure moral da história, porque não vai encontrar. Pareceu-me as vezes uma gozação com o leitor, o que conhecendo o autor não me estranha o mais mínimo. Enfim, uma coletânea de lampejos, sonhos fulgurantes talvez, a realidade enigmática que o título adverte.

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